"O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!"
(Augusto Boal)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Psicose e Ficção no Congresso Nacional de GT

Segue o resumo do segundo trabalho que apresentarei no Congresso Nacional de Gestalt-Terapia, este com minha colega Tamara Emerim Guerra.




PSICOSE E FICÇÃO: FUNÇÃO E AJUSTAMENTOS NA EXPERIÊNCIA DA FICÇÃO E DA ARTE SOB O OLHAR DA GESTALT-TERAPIA

GUERRA, Tamara; BOCCARDI, Diogo.

Para a GT todas as nossas formas de estar no mundo são chamadas de ajustamentos. Neste trabalho temos por objetivo apresentar e discutir as diversas funções da ficção frente aos sujeitos – ou seja, que ajustamentos podem emergir diante de uma obra de ficção, como filmes, música, literatura e as artes em geral. A partir de seus efeitos, na forma de ajustamentos criadores, percebemos que filmes, séries, literatura, e outros modos de expressão ficcional cumprem diferentes funções na experiência. A Gestalt-Terapia, tal qual desenvolvida por Paul Goodman a partir das intuições clínicas de Fritz Perls (GHP, 1997/1951), descreve a experiência sob três pontos de vista, chamados justamente de funções. Falamos da função Id, da função de Ato e da função Personalidade, com as quais os autores identificam os diferentes modos clínicos.
Em nossa prática, organizando sessões de filmes de ficção científica para pessoas que se ajustam psicoticamente, observamos que diferentes ajustamentos criadores configuram o campo. Chamamos estes encontros periódicos de “Sessão Sci-Fi”. A Sessão Sci-Fi é um espaço para que as pessoas possam se encontrar sem demandas para que compreendam algo sobre si, sobre o filme, ou sobre uma teoria. Constitui-se uma espécie de intervenção clínica no campo dos ajustamentos psicóticos, complementar à escuta e ao acompanhamento terapêutico, que privilegia espaços de convivência sem exigências afetivas e sociais, aos quais os sujeitos da psicose não podem responder.
Para além das formações psicóticas – como os delírios e as identificações maníacas e depressivas, nas quais as obras propiciam que a angústia seja aplicada – percebemos a ocorrência de outros modos de participação no campo organismo/ambiente. No âmbito dos ajustamentos sincréticos ou fluidos, a experiência com a ficção está relacionada à fruição estética e à formação de identidades objetivas. No âmbito da neurose, a peça de ficção oportuniza a vivência catártica das emoções, ou seja, serve como forma de evitação dos excitamentos que, como situações inacabadas, retornam nas vivências. Outra possibilidade, ainda, é que os filmes ou outros elementos artísticos ou ficcionais permitam que as pessoas aprendam algo, e sejam usados como elementos didáticos, que forneçam dados da realidade nos quais a aflição possa ser aplacada.


BIBLIOGRAFIA
MÜLLER-GRANZOTTO, Marcos José & Rosane Lorena. “Clínica dos ajustamentos psicóticos: uma proposta a partir da Gestalt-terapia”. IGT NA REDE. URL: http://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=176&layout=html
MÜLLER-GRANZOTTO, Marcos José & Rosane Lorena. Fenomenologia e Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007. 366p.
PERLS, Frederick; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN, Paul. 1951. Gestalt Therapy: excitement and growth in the human personality. Second Printing. New York: Delta Book, 1965.Tradução utilizada: Gestalt-Terapia. Trad. Fernando Rosa Ribeiro. São Paulo: Summus, 1997.
LIMA, Elisabeth Araújo. Arte, clínica e loucura: território em mutação. São Paulo: Summus/Fapesp, 2009.

Nenhum comentário: