Finalizando a produção do espetáculo teatral "Destemperados: à grega, à francesa, à normal", do Núcleo Cênico do Colégio Catarinense, me deparei com esta lindeza de música, na voz da Elis.
“O Rancho da Goiabada”, música
composta por Aldir Blanc e João Bosco em 1978 fala sobre a triste
realidade dos bóias-frias brasileiros e as dificuldades que eles
encontram até para se alimentar. Para esses bóias-frias, bife a
cavalo, batata frita e goiabada cascão com muito queijo não passam
de sonhos, e eles mal têm acesso a um digno prato de comida. Com a
exuberância já conhecida de sua voz, Elis Regina canta o outro lado
da fome, que ao invés da fartura traz falta, ao invés da satisfação
traz sofrimento. Ao ouvirmos a canção, o que podemos esperar é que
um dia a beleza da voz de Elis Regina e a beleza da composição de
Aldir Blanc e João Bosco possa também rechear o prato de todos os
brasileiros, todas as pessoas do mundo.
Ser professor é o que mais me gosto. E me sinto muitos professores. Insatisfeito, inseguro, vaidoso, atento, criativo, indisciplinado, cansado, esforçado, frustrado, impotente, potente, farsante, esperançoso.
Mas há sempre afeto. Muito!
Hoje, ser professor é minha profissão. Nem sempre foi assim. Já foi sonho, já foi novidade, já foi impossível, já foi espelho.
Ontem foi o Dia Mundial da Saúde Mental, declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Coletivo PIRA, de Florianópolis, publicou em seu blog uma série de reportagens e notas sobre o dia.
Em função dos 50 anos de regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia promove o pêmio Paulo Freire, concedido a pessoas que lutam por justiça social.
Por indicação do CRP 18a Região, um dos premiados é o irretocável D. Pedro Casaldáliga.
Assino embaixo, e me regozijo com a imagem de Pedro, seu exemplo, sua força!
Recentemente soube de um espetáculo especial do Cirque du Soleil, voltado ao público adulto. O que significa dizer: números sensuais, figurinos e enredo bastante erotizados, coreografias lindíssimas, corpos perfeitos, ousadia, simplicidade, crueza, força.
Esta semana assisti ao espetáculo Baden Baden, dirigido por Vicente Concilio. Uma beleza! Fui atravessado por diversas vozes e biografias, que não eram minhas mas assim pareciam.
Em cena, apenas mulheres, e nenhuma reflexão de gênero. Que bálsamo! Numa estética em que o particular é genérico, indeterminado, há muito espaço para que o espectador complete o vazio de sentidos. Há um universo.
Na saída, ouvi comentários pretensamente analíticos, como: "conseguiram fugir dos clichês do Brecht, né?", ou "ficou divertido, com um tom irônico". Até tentei, eu mesmo, analisar: "tem um ritmo muito bom, ainda que caia um pouco na parte final...".
Mas, prestando atenção no que sentia e respirando fundo, me dei conta de que esses comentários tinham mais a função de solapar a angústia, dar tempo para respirar, do que propriamente produzir um saber sobre o espetáculo. Diante da vida, da falta de sentido, não é o enquadramento técnico ou o discurso panfletário que arrastam. É a violência. E Baden Baden foi, em mim, violento.
Fui contemplado pelos mortos.
Depois de dormir (pouco e mal), fiquei cantarolando Chico.
Mais uma tentativa de preencher a angústia?
Vai minha homenagem aos mortos:
"Vence na vida quem diz sim" - Chico Buarque e Ruy Guerra, para o espetáculo teatral Calabar ou o elogio da traição.
E minha homenagem às atrizes:
"Ana de Amsterdam" - Chico Buarque e Ruy Guerra, para o espetáculo teatral Calabar ou o elogio da traição.
Quando a angústia se torna familiar... Ismênia: Tu pareces desejar, com o coração ardente, o que nos causa calafrios de pavor!
Antígone: Só sei que cumpro a vontade daqueles a quem devo agradar.
Ismênia: Se tu o fizeres... mas o que desejas é impossível!
Antígone: Quando me faltarem as forças, eu cederei
Ismênia: Mas não é prudente tentar o que é irrealizável!
Antígone: Visto
que assim me falas, eu te odiarei! E serás odiosa, também, ao morto,
junto a quem serás um dia depositada... E com razão! Vamos! Deixa-me,
com minha temeridade, afrontar o perigo! Meu sofrimento nunca há de ser
tão grande, quanto gloriosa será minha morte!
Ismênia: Já que assim queres, vai! Bem sabes que cometes um ato de loucura, mas provas tua dedicação por aqueles a quem amas!
Em Floripa é assim: a cultura local tem pouco espaço e, quando há eventos de teatro, eles se acumulam, qual maratona, praticamente inviabilizando que as pessoas assistam aos espetáculos.
Pois que, no mesmo período do Festival Palco Giratório, que acontece durante todo o mês de setembro, e que já foi divulgado no blog, a cidade sedia também o tradicional Festival de Teatro Isnard Azevedo (que a gestão Berger insiste em chamar de "Floripa Teatro").
Até o final da semana, espetáculos gratuitos por toda a cidade, em diversos horários!
Para acessar o site oficial do Festival, clique aqui!
Na clínica, e especialmente na Gestalt-terapia, a expressão "emprestar o corpo" tem diversos significados que ajudam a orientar a atuação do profissional.
No atendimento a ajustamentos evitativos, chamados de neuróticos, "emprestar o corpo" é partir das próprias percepções para fazer intervenções. Não atuo em função de um saber prévio (adquirido em livros ou em cursos de psicologia, por exemplo), ou de um modelo a ser seguido ou alcançado, mas daquilo que o outro provoca em mim.
Na clínica dos ajustamentos de busca, chamados de psicóticos, "emprestar o corpo" é permitir que, na realidade, sejam compartilhados modos de vida que em outros espaços não têm lugar, não têm direito de cidadania. Com meu corpo posso ser co-participante de uma fixação alucinatória ou delirante, sem produzir demandas por afeto - ou seja, posso dar suporte e continente àquilo que é produzido pelos outros corpos, mesmo que não façam sentido para mim.
Em situações de exclusão (sejam vivências de luto, de injustiça, de abandono), meu corpo, emprestado ao outro, constitui um dado concreto capaz de servir de porto seguro quando tudo o mais desapareceu. Um abraço, um ouvido, um colo, uma mão, tornam-se a ocasião para que o sujeito, aflito, possa recuperar a capacidade de localizar-se no tempo e no espaço, e voltar a desejar e criar sua própria existência material.
Mas na arte tudo isso ganha dimensões inimagináveis. À arte, o corpo do artista não está apenas "emprestado", mas entregue. Enquanto produzo a obra, espontaneamente acontece uma espécie de reversão: sou surpreendido por algo que eu mesmo fiz. Minha criação me atravessa, me modifica, me cria. Praticamente "me ensina sobre mim".
A história da arte é repleta de manifestações curiosas sobre o uso do corpo. A body art já foi vanguarda, e hoje é quase "lugar comum", entre as tantas mídias que surgem como opções para a expressividade.
Mas continuamos encantados com certas ideias, muito simples, mas nas quais podemos nos olhar, nos identificar, nos estranhar. As fotos deste post são do fotógrafo Allan Teger, que usa corpos nus e miniaturas para criar as "paisagens" de suas imagens. Para ver mais, visite o site do artista!
Aproveito para recomendar o texto de um amigo, Marcus Cézar, gestalt-terapeuta do Ceará, que foi originalmente publicado em seu blog Ajustamento Criativo.
Neste ano, a equipe do Instituto Müller-Granzotto prepara o 4° GT Catarina de forma muito especial. Após consolidar a identidade da Gestalt-terapia nas três edições anteriores do congresso, este ano o encontro discutirá a dimensão política da clínica gestáltica. Por isso, será realizado, durante a programação do GT, o primeiro Colóquio Paul Goodman, que inclui a exibição inédita do documentário "Paul Goodman changed my life", com a presença do diretor Jonathan Lee.
O esquadro disfarça o eclipse que os homens não querem ver. Não há música aparentemente nos violinos fechados. Apenas os recortes dos jornais diários acenam para mim como o juízo final.
Convido a todos para o Curso de Formação em Gestalt-Terapia com Crianças e Adolescentes, em Juazeiro do Norte, promovido pelo Diálogos, com início em setembro.
Segue o cartaz de divulgação, com o programa do curso:
Segue cartaz de divulgação do Workshop "Sonhos, Teatro e Gestalt-Terapia", com o gestalt-terapeuta italiano Paolo Quattrini, que será realizado em agosto em Florianópolis!
Acrescento que o medo e a ansiedade são fantasias, "desejos ao contrário". Então, é sempre bom perguntar: medo do palco é medo de quê? Medo do palco é desejo de quê?
Grande abraço a todos que se mostram (e se escondem) em cima de um palco!
No segundo semestre de 2012 o NUCCA – Núcleo Cênico do Colégio Catarinense conceberá um novo espetáculo, inspirado no tema da alimentação.
Em função disso, na sexta-feira, dia 1º de junho, o NUCCA reuniu-se para mais um encontro de pesquisa para a construção do espetáculo de final de ano. No intuito de explorar diferentes possibilidades de agregar o tema da alimentação à encenação teatral, fomos recebidos na casa do aluno Nicholas Kucker Triana do 2º ano do Ensino Médio. O grupo foi convidado a usar roupas coloridas e descombinadas, e Olavo e Maria Andrea, pais do Nicholas, estimularam os presentes com um ambiente à meia luz, num breu colorido, ao som de Janis Joplin e Buffalo Springfield.
Aos poucos, diferentes alimentos foram oferecidos, com sabores inusitados e surpreendentes. A interação do grupo foi entremeada pela declamação de poemas de Jack Kerouac e Allen Ginsberg, entre outros.
Para além dos exercícios de criação cênica que realizamos no encontro, fomos conduzidos pelo clima profundamente sensorial dos sabores, sons e sentidos da contracultura norteamericana das décadas de 1950 e 1960 que, vivendo a suposta prosperidade do pós-guerra, começou a apresentar alternativas ao chamado american way of life.
Os alunos presentes, espontaneamente, começaram a se perguntar pelas razões e desrazões de suas motivações, de seus desejos, e das próprias condições em que se estabelecem os vínculos de amizade do grupo.
Sem dúvida, foi um encontro transformador!
Diogo Boccardi
(professor do Núcleo Cênico do Colégio Catarinense)
Convido para a apresentação do espetáculo do Nucca, dirigido por mim e pelo meu colega Deco.
Compareçam!
Ficha Técnica
Direção: Diogo Boccardi e Edélcio Philippi
Assistência de Direção: Leandro Lunelli
Cenografia e figurinos: o grupo
Adaptação dos contos: o grupo
Elenco: Anna Carolina Vallim, Ariza Bueno Tozato, Augusto Pfeiffer Colleoni, Bernardo Ferrari Mendonça, Bianca
Costi Farias, Catharina Jaeger, Isabella Pereira, Isadora Marques Sueldo, João
Xavier, Marco Antônio Higino, Mariana Smânia, Matheus Alano de Bem, Paula Espínola,
Pedro Cruz, Thaís Espínola.
Assessoria – Literatura: Profa. Lenita
Oficina de cenotécnica: Leandro Lunelli
Supervisão: Silvio Ernesto Bleyer
Contos adaptados:
“O espelho” – Machado de Assis
“O menino do espelho” – Fernando
Sabino
“Varandas da Eva” – Milton Hatoum
“Viagem a Petrópolis” – Clarice
Lispector
Apoio: Associação de Pais e Professores do Colégio Catarinense
Nesta quarta, dia 20, será lançado o livro "Psicose e Sofrimento" dos meus professores e amigos Marcos e Rosane Müller-Granzotto, editado pela Summus. A noite de autógrafos será no Nomuro Lounge, na Lagoa da Conceição.
(...) Dentre os livros que eu lia estava um, com historietas de Hans Christian Andersen. Uma delas, em particular, sempre me emocionou. Era a da vendedora de fósforos. Numa noite de natal uma guriazinha anda pela rua cheia de neve, tentando vender seus fósforos para poder comer e se aquecer. Ninguém compra. Ela então se abriga numa marquise onde observa as famílias comendo, felizes, celebrando o natal. E ela está sozinha, com frio e com fome. A história termina com a menina morrendo de frio, em pleno natal, porque ninguém lhe havia comprado um fósforo. Aquilo é horrível.
Eu lembro que ficava no tapete, lendo, e questionando minha mãe. Ela tinha sempre as respostas. Uma vez, lendo a história, em lágrimas, comentei indignada: “Alguém podia comprar o fósforo. A guriazinha não morreria”. E minha mãe, da pia, bramiu a faca que lavava: “Não deveria era existir criança precisando vender fósforo”. E eu assenti. Era isso. (...)
Para este dia dos namorados, pensei nas canções rasgadas do Vinícius, nos diálogos empolados do Shakespeare, nas reflexões obtusas do Freud... mas preferi estes dois lindos curtas, do "Paris, te amo"!