"O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!"
(Augusto Boal)

sábado, 13 de dezembro de 2008

O psicólogo clínico e o desejo

Olá!


Hoje a idéia é apenas pensar um pouco neste cotidiano estranho: o desejo do psicólogo clínico.


Por que "estranho"?


Bom, em primeiro lugar porque poucas pessoas partilham desta rotina. Sentar-se em uma poltrona (ou cadeira, almofada, beira de leito, banco de praça, enfim) e ficar a ouvir um outro que se manifesta, e dar a este outro toda a importância que ele não encontra em qualquer lugar, e fazer disso profissão, isto é um tanto incomum.

Além disso, "estranhar" faz parte do trabalho do psicoterapeuta. O serviço que ele oferece àqueles que lhe procuram é precisamente o de olhar de forma outra para os relatos e ações já naturalizadamente reproduzidos. Quando o terapeuta estranha algo, abre espaço para o novo.

No mais, ainda, ao clínico cabe abster-se de desejar, abster-se de viver a expectativa do resultado, da mudança, do sucesso... Ele abre mão de querer, em função do querer do outro.

(reparem o quanto falo em "outro" - isso ainda renderá um post no futuro...)


O que move, então, o psicoterapeuta, a praticar seu ofício?


[Me inspira muito o "Poema em linha reta", do Pessoa.]

Me parece que o clínico é esse sujeitinho ordinário, "farto de semi-deuses", cansado de cruzar na rua com pessoas de plástico que, no dia-a-dia, buscam ser vistas sem defeito algum, e cuja maior satisfação é justamente que ninguém as estranhe.

Perambulando entre os amigos, familiares, colegas, desconhecidos, o futuro terapeuta se pergunta (como "Pessoa"): "onde é que há gente no mundo?!"

E aí se faz um clínico: no desejo de encontrar gente, e não príncipes. E de ver o que de gente há em quem se faz de príncipe.

Ouçam o Poema:





"Quem me dera ouvir de alguém a voz humana que confessasse não um pecado, mas uma infâmia, que contasse não uma violência, mas uma covardia..."


É esse o meu desejo como clínico: "eu, que tenho sido ridículo", quero descobrir "onde há gente no mundo".


E você? Que deseja?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O que é Gestalt-Terapia? E que blog é esse?

A Gestalt-Terapia é uma modalidade psicoterapêutica originada a partir da síntese crítica entre a clínica psicanalítica e a fenomenologia, desenvolvida pelo casal Fritz e Laura Perls, e por Paul Goodman, a partir de variadas contribuições.
A Abordagem Gestáltica, como também é chamada, ocupa-se de analisar a forma como, em cada vivência atual, os resquícios do passado e as possibilidades de futuro configuram um campo intersubjetivo, configuram as relações que travamos, sempre partindo da experiência mesma de contato com o mundo material.

A clínica gestáltica caracteriza-se por uma abertura ética à acolhida das formas de contato com o mundo, e dá importância tanto à linguagem verbal quanto a outros modos de expressão da singularidade no social – com ênfase na motricidade e em elementos pré-reflexivos.
Daí nossa intenção de articular, neste blog, a análise gestáltica e a arte teatral, e suas interfaces.

Queremos aqui criar um espaço de interlocução de saberes, práticas, discursos, objetivando sempre o crescimento pessoal e teórico, na tentativa de vivermos uma vida mais criativa e sensível.
A proposta é tanto comentar teoricamente as relações possíveis entre o teatro e a gestalt-terapia, quanto trazer as mais variadas linguagens para a cena gestáltica. Da mesma forma, aquilo que acontece - ou que pode acontecer - em gestalt-terapia terá seu lugar neste blog, como um palco onde todos podemos "nos ver vendo".

Afinal, o que importa-nos mais do que nossas próprias cenas cotidianas?

Abraços carinhosos a todos os leitores!

Diogo e Sabrina!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008