"O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!"
(Augusto Boal)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dia Nacional do Teatro

Caríssimos,
Passou o Dia Nacional do Teatro (19 de setembro) e pouco se falou.
Em função disso, resgatei uma pequena matéria de 2003, com Sérgio Mamberti e Zé Celso Martinez Corrêa.

Fica o meu desejo, com o deles, de que o teatro no Brasil seja muitos!


No dia em que se comemora o pouco comentado Dia Nacional do Teatro (o dia Mundial, em 27 de março, é mais festejado), dois grandes nomes da classe teatral vivem momentos distintos - e importantes - de suas carreiras. Enquanto José Celso Martinez Corrêa está às vésperas de celebrar dez anos da reabertura da sede do Teatro Oficina, localizada no bairro do Bixiga, em São Paulo, Sérgio Mamberti atua como Secretário de Apoio a Preservação da Identidade Cultural, ligado ao Ministério da Cultura do governo Lula.
Os dois com histórias longas e marcantes dedicadas ao teatro relembraram suas trajetórias, em entrevistas exclusivas ao Portal Terra, e também ressaltaram, com maestria, as principais características do teatro brasileiro. Para Mamberti, a maior delas é a "diversidade". "Devemos comemorar essa data com respeito e alegria, e com o signo do avanço", afirma. "O teatro consegue, como expressão do homem, exprimir a identidade dessa nação tão multifacetada que é o Brasil."
Com quatro décadas de carreira, Sérgio Mamberti, que se formou na Escola de Arte Dramática de São Paulo, em 1962, define-se como "um homem de teatro". "Já são 41 anos de lutas, militância cultural e de profissão", conta. "Foi o teatro que me construiu como cidadão, artista e pensador."
Diante da secretaria, o ator deixou de lado os palcos e passou para "o outro lado". "Os dois lados têm suas dificuldades", define. "Eu sempre participei de discussões culturais e já administrei três teatros. Mas fazer parte do governo, com todas as responsabilidades que isso implica, é difícil. Todos os dias eu me pergunto em como fazer para não decepcionar."
Sobre o Dia Nacional do Teatro, Sérgio Mamberti tem um desejo muito claro para a manifestação artística que abraçou há quatro décadas. "Desejo longa vida! De todas as artes, é a que mais se aproxima do sentido da vida. O instrumento do ator no palco é o corpo, a voz. E o público está ali para um ato de comunhão. Também não podemos esquecer que o teatro nasceu de um ato religioso", explica.
Se tem alguém que nunca esqueceu o caráter religioso do teatro, esse alguém chama-se José Celso Martinez Corrêa. "O teatro é como o candomblé, é uma arte de comparação", define. Aos 66 anos, o lendário diretor é a alma do Teatro Oficina, símbolo de resistência há 42 anos e que desde o dia 15 de agosto - até o próximo dia 9 de novembro - está em cartaz, em São Paulo, com Os Sertões - O Homem - Parte 1 - Do Pré-Homem a Revolta. Em dezembro, o grupo estréia a "parte 2" da trilogia inspirada no livro de Euclides da Cunha, depois de ter levado a "parte 1" para o Rio de Janeiro.
No próximo dia 3 de outubro, a sede do Oficina, idealizada por Lina Bo Bardi, comemora dez anos de reabertura com uma grande festa, anunciada com empolgação por Zé Celso. "Vai ser um ensaio aberto e uma festa", explica, ressaltando que a entrada será gratuita. "Sou contra quem diz que teatro não precisa de dinheiro. Teatro precisa de muito dinheiro, mas você tem que dar para as divindades", diz, voltando ao caráter religioso do ofício. "Se a gente pudesse, cobraria ainda mais barato (a peça custa R$ 20). Mas esse dia vai ser de graça. Será o dia das graças."
(...)
Carnavalização
Por incrível que pareça, para José Celso Martinez Corrêa é difícil falar de teatro brasileiro. "É difícil, porque ainda é muito colonizado. Apenas os grupos mais novos, como os Parlapatões, estão resistindo e se antropofagiando. O próprio Oficina nasceu colonizado e toda a nossa trajetória vem sendo marcada pela descolonização. O Rei da Vela (1967) foi o maior marco dessa descolonização", explica.
Para o diretor é mais fácil, por motivos óbvios, concentrar as suas definições na própria experiência. Falar do Oficina, para ele, é como falar da própria vida. "Tudo o que se faz na vida se confunde com ela", diz.
Sendo assim, Zé Celso discursa naturalmente sobre o grupo, definindo as montagens como "cultura popular apreendida com dor e humor". "A carnavalização é a maior característica do teatro que fazemos. É um teatro que está ligado às artes populares e à religiosidade brasileira, porque o teatro é um lugar de potencialização da cultura. Da cultura que está em Glauber Rocha, nos índios, em Euclides da Cunha...", afirma o diretor.


Leia a matéria completa no Portal Terra.

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