"O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!"
(Augusto Boal)

domingo, 25 de março de 2012

O coração dos homens e das mulheres

Molière, deixando o domingo mais suave!



VALÉRIO – Minha querida Elisa, você parece mais triste depois dos compromissos que assumiu para comigo… Está arrependida das promessas que fizemos um ao outro?

ELISA – Não, Valério. Eu não me posso arrepender do nosso amor. Sinto-me arrastada para ele por força muito boa e nunca desejaria que as coisas fossem diferentes do que são. Mas, para ser sincera, estou inquieta e receio gostar de você mais do que desejaria.

VALÉRIO – Receia por quê?

ELISA – Por mil coisas ao mesmo tempo… A cólera de meu pai, os protestos da família, as censuras do mundo… e… muito mais do que tudo isso, Valério, receio a inconstância do seu coração e essa frieza com que os homens pagam, na maioria das vezes, por provas demasiado sinceras de um amor verdadeiro. 

VALÉRIO – Mas não me faça a injustiça de julgar o meu coração pelo coração dos outros homens. Suspeite-me de tudo, Elisa, menos de faltar à sinceridade que eu devo a você. Amo-a muito e meu amor será tão duradouro quanto a minha vida.

ELISA – Todos dizem o mesmo, Valério. Nas palavras todos os homens são iguais. Apenas pelas ações se diferenciam.

VALÉRIO – Espere então por elas para julgar a minha sinceridade e não procure crimes nos injustos receios de uma lastimável previsão. Peço-lhe que não me ofenda com uma suspeita ultrajante e que me permita demonstrar, por mil e uma provas, a honestidade das minhas promessas.

ELISA – Ah! Com que facilidade nós nos deixamos convencer pelas pessoas a quem amamos!… Sim, Valério… Eu acredito que seu coração seja incapaz de me enganar. Creio que você gosta de mim, como diz, com um amor verdadeiro. Creio que será fiel. (...)

("O Avarento" - primeira cena)

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