Olá!
Hoje a idéia é apenas pensar um pouco neste cotidiano estranho: o desejo do psicólogo clínico.
Por que "estranho"?
Bom, em primeiro lugar porque poucas pessoas partilham desta rotina. Sentar-se em uma poltrona (ou cadeira, almofada, beira de leito, banco de praça, enfim) e ficar a ouvir um outro que se manifesta, e dar a este outro toda a importância que ele não encontra em qualquer lugar, e fazer disso profissão, isto é um tanto incomum.
Além disso, "estranhar" faz parte do trabalho do psicoterapeuta. O serviço que ele oferece àqueles que lhe procuram é precisamente o de olhar de forma outra para os relatos e ações já naturalizadamente reproduzidos. Quando o terapeuta estranha algo, abre espaço para o novo.
No mais, ainda, ao clínico cabe abster-se de desejar, abster-se de viver a expectativa do resultado, da mudança, do sucesso... Ele abre mão de querer, em função do querer do outro.
(reparem o quanto falo em "outro" - isso ainda renderá um post no futuro...)
O que move, então, o psicoterapeuta, a praticar seu ofício?
[Me inspira muito o "Poema em linha reta", do Pessoa.]
Me parece que o clínico é esse sujeitinho ordinário, "farto de semi-deuses", cansado de cruzar na rua com pessoas de plástico que, no dia-a-dia, buscam ser vistas sem defeito algum, e cuja maior satisfação é justamente que ninguém as estranhe.
Perambulando entre os amigos, familiares, colegas, desconhecidos, o futuro terapeuta se pergunta (como "Pessoa"): "onde é que há gente no mundo?!"
E aí se faz um clínico: no desejo de encontrar gente, e não príncipes. E de ver o que de gente há em quem se faz de príncipe.
Ouçam o Poema:
"Quem me dera ouvir de alguém a voz humana que confessasse não um pecado, mas uma infâmia, que contasse não uma violência, mas uma covardia..."
É esse o meu desejo como clínico: "eu, que tenho sido ridículo", quero descobrir "onde há gente no mundo".
E você? Que deseja?
Hoje a idéia é apenas pensar um pouco neste cotidiano estranho: o desejo do psicólogo clínico.
Por que "estranho"?
Bom, em primeiro lugar porque poucas pessoas partilham desta rotina. Sentar-se em uma poltrona (ou cadeira, almofada, beira de leito, banco de praça, enfim) e ficar a ouvir um outro que se manifesta, e dar a este outro toda a importância que ele não encontra em qualquer lugar, e fazer disso profissão, isto é um tanto incomum.
Além disso, "estranhar" faz parte do trabalho do psicoterapeuta. O serviço que ele oferece àqueles que lhe procuram é precisamente o de olhar de forma outra para os relatos e ações já naturalizadamente reproduzidos. Quando o terapeuta estranha algo, abre espaço para o novo.
No mais, ainda, ao clínico cabe abster-se de desejar, abster-se de viver a expectativa do resultado, da mudança, do sucesso... Ele abre mão de querer, em função do querer do outro.
(reparem o quanto falo em "outro" - isso ainda renderá um post no futuro...)
O que move, então, o psicoterapeuta, a praticar seu ofício?
[Me inspira muito o "Poema em linha reta", do Pessoa.]
Me parece que o clínico é esse sujeitinho ordinário, "farto de semi-deuses", cansado de cruzar na rua com pessoas de plástico que, no dia-a-dia, buscam ser vistas sem defeito algum, e cuja maior satisfação é justamente que ninguém as estranhe.
Perambulando entre os amigos, familiares, colegas, desconhecidos, o futuro terapeuta se pergunta (como "Pessoa"): "onde é que há gente no mundo?!"
E aí se faz um clínico: no desejo de encontrar gente, e não príncipes. E de ver o que de gente há em quem se faz de príncipe.
Ouçam o Poema:
"Quem me dera ouvir de alguém a voz humana que confessasse não um pecado, mas uma infâmia, que contasse não uma violência, mas uma covardia..."
É esse o meu desejo como clínico: "eu, que tenho sido ridículo", quero descobrir "onde há gente no mundo".
E você? Que deseja?
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