"O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!"
(Augusto Boal)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Bramiu a faca"




(...) Dentre os livros que eu lia estava um, com historietas de Hans Christian Andersen. Uma delas, em particular, sempre me emocionou. Era a da vendedora de fósforos. Numa noite de natal uma guriazinha anda pela rua cheia de neve, tentando vender seus fósforos para poder comer e se aquecer. Ninguém compra. Ela então se abriga numa marquise onde observa as famílias comendo, felizes, celebrando o natal. E ela está sozinha, com frio e com fome. A história termina com a menina morrendo de frio, em pleno natal, porque ninguém lhe havia comprado um fósforo. Aquilo é horrível.

Eu lembro que ficava no tapete, lendo, e questionando minha mãe. Ela tinha sempre as respostas. Uma vez, lendo a história, em lágrimas, comentei indignada: “Alguém podia comprar o fósforo. A guriazinha não morreria”. E minha mãe, da pia, bramiu a faca que lavava: “Não deveria era existir criança precisando vender fósforo”. E eu assenti. Era isso. (...)


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