"O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!"
(Augusto Boal)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Terapia

Caríssimos, segue abaixo um pequeno artigo que escrevi para o Jornal Em Cont@to, sobre psicoterapia, publicado em julho do ano passado.




Por que o psicólogo não dá respostas às nossas perguntas?

Quem já fez terapia sabe: o psicólogo raramente responde às nossas perguntas, ou tira as nossas dúvidas, ou dá sua opinião sobre o que devemos fazer...
O que acontece é que procuramos a terapia quando vivemos situações difíceis para nós. Sejam momentos de muita dor ou de uma grande perda; ou momentos em que temos que tomar decisões importantes; momentos em que nada parece fazer sentido; ou aquelas situações em que simplesmente queremos mudar e não conseguimos! Nesses momentos, esperamos que algo ou alguém organize um pouco a nossa vida. Recorremos a um familiar, a um amigo, a um medicamento, a um conselheiro; enfim, a alguém que nos dê apoio naquilo que não estamos dando conta de fazer.
E qual a diferença entre o amigo, o conselheiro, o medicamento psiquiátrico... e o psicoterapeuta? A diferença está na forma de dar apoio. Podemos considerar que uma pessoa em crise está, por algum motivo, se sentindo incapaz de fazer certas escolhas, ou de agir como gostaria. Está se sentindo mal, com dificuldades em gerenciar as demandas que seu meio social impõe. Ou seja, precisa de ajuda!
Para pensar nas diferentes formas de apoio, vamos fazer uma analogia com um jogo de quebra-cabeças: as peças estão todas espalhadas na sua frente, bagunçadas, e existem poucas indicações, poucas “pistas” de como organizá-las. Se você não consegue montar as peças do “quebra-cabeças da vida” e construir uma imagem clara e satisfatória, você pede ajuda. E a ajuda pode vir de três formas:
·         A primeira possibilidade é alguém sentar ao seu lado e começar a montar as peças para você. É isso que normalmente fazem os nossos amigos e parentes, ou aquelas pessoas próximas que tentam entender e resolver os problemas. Que aconselham, dão dicas e orientações. São aqueles momentos em que alguém diz “o que é melhor para você”.
·       Outra possibilidade é não se preocupar mais com a bagunça do quebra-cabeças. Em situações ruins, como a morte de um ente querido, é comum que alguém proponha que você não pense mais no assunto, tente “se distrair” com alguma outra coisa... Ou então, quando você está sofrendo, faz uso de um antidepressivo, ou um ansiolítico (calmante), ou alguma outra medicação que altera o modo como você encara o que está acontecendo. O quebra-cabeças continua desmontado, mas você “deixa pra lá”.
·       A terceira possibilidade é que, diante do quebra-cabeças, alguém acompanhe você para que possa desenvolver a sua própria capacidade de encaixar as peças e construir a imagem completa. O apoio, nesse caso, não é alguém encontrar a solução por você, ou que se diminua a ansiedade da situação; mas é fortalecê-lo para lidar com a situação que o aflige.
Na maioria das situações, esta terceira forma de apoio é a mais indicada. Afinal, é muito importante que cada pessoa desenvolva sua autonomia e não se torne dependente de algo ou alguém que resolva todos os seus problemas, sempre. O trabalho do psicólogo, na terapia, é revitalizar a força de cada um para gerenciar sua própria vida. E, por isso, não adianta o psicólogo dar respostas, apontar caminhos, resolver os problemas: quem faz isso é você!
Se o psicólogo não dá respostas àquele que o procura, é porque ele percebe que esta pessoa tem capacidade (às vezes esquecida, reprimida) de encarar o desafio que se apresenta. A terapia é, justamente, um modo eficaz de retomar essa capacidade. É uma possibilidade de a pessoa fazer algo por ela mesma!
Quando não for esse o caso – ou seja, quando a pessoa precisar de um outro tipo de suporte – o bom psicólogo saberá o que fazer.
Parece simples, mas, em um tempo em que é tão difícil administrar as necessidades pessoais e os interesses do mundo, é preciso um profissional competente para ajudar a “montar o quebra-cabeças”.

Diogo de Oliveira Boccardi
Psicoterapeuta
Instituto Müller-Granzotto
Fone:48 9915-6611

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