Para que o fim de semana seja leve, ainda que cheio de trabalho!
"O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!"
(Augusto Boal)
(Augusto Boal)
sexta-feira, 25 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
Em Branco
Caríssimos,
Esta semana estreia no TAC, em Florianópolis, o espetáculo teatral Branco, dirigido por Leandro Lunelli, com uma proposta ousada e sensível. Atendendo um convite, Leandro escreveu especialmente para o Gestalt em Cena, contando um pouco sobre o processo criativo, e nos deixando com mais curiosidade sobre o que veremos em Branco.
Boa leitura, e bom espetáculo!
’Em branco’
‘Branco’ é
um projeto teatral que me ocupou mais de um ano e meio, e que agora, nos fins
de maio, pretende finalmente subir ao palco. Descrevo brevemente nessas linhas
o nosso processo de concepção da dramaturgia e seu entrelaçamento nas criações
plásticas da linguagem cênica trabalhada.
Farei o
esforço em separar aqui as linhas dramatúrgicas do espetáculo descrevendo-as
individualmente, mas penso que talvez seja um pouco difícil visto que todo o
processo foi construído simultaneamente e de maneira integrada, sem constituir
etapas fragmentadas no processo criativo. Ou seja, ‘tudo junto e misturado’.
‘Branco’,
rapidamente, é um espetáculo teatral que se utiliza da articulação de vários
meios artísticos, como as artes plásticas, a música, a dança e o cinema, junto
às artes cênicas na tentativa de transformar a experiência teatral do
espectador. Tenta fazê-lo vivenciar o espetáculo muito mais do que somente
assisti-lo. Queremos levá-lo o mais próximo possível da narrativa apresentada
no palco. Não temos aqui, como alguns podem pensar, um espectador ativo ou
participativo do evento teatral – como o engajado por Bertold Brecht, por
exemplo – mas um público ‘integrante’ do espetáculo.
Quando
me refiro a um público ‘integrante’, não podemos fazer com que o pensamento nos
conduza a um espectador que faça parte da dramaturgia da cena, mas um signo que
se faz ao mesmo tempo observador da cena e sensorialmente integrante dela. Digo
isso, pois o ‘Branco’ tem, em suas concepções, o objetivo de misturar arte e
tecnologia. Assim, juntando essas duas possibilidades de trabalho – um público
‘integrante’ e os efeitos especiais, resultado da perpendicularidade entre a
arte e as tecnologias – obtemos um espetáculo em 6D.
Seis
dimensões: três relativas ao comprimento, altura e largura da própria arte
cênica e das projeções em 3D; e mais três dimensões sensórias: tato, olfato e
paladar - alcançadas através dos efeitos especiais. Ou seja, pesquisa-se aqui e
assim, um diferente modelo de interpretação pautado na interação do ator com os
meios tecnológicos. Entendendo: um ator que cheira uma flor no palco italiano
se expressa com esta ação. O espectador não somente o vê cheirando uma flor e
se ‘toca’ na reflexão da ação imagética do ator, mas se posiciona junto a ele
na ação, principalmente, quando ao assisti-lo, também sente o cheiro da flor.
Assim, o ator ganha expressões antes inalcançáveis e o público integra o
espetáculo ao ser inserido sensorialmente na narrativa.
Para isso,
a dramaturgia original foi construída e submetida a todas essas intenções
conceptivas do projeto. O que transborda estas intenções é a linha dramática
embrionária do espetáculo: um pequeno texto que delineia poucas informações
sobre os personagens, o espaço e a história que antecede e dá o ponto de
partida da narrativa. Assim, para escrever este pequeno ‘roteiro’, foram
definidas duas principais questões: o enfoque ‘humano’ que queríamos trabalhar
– a amizade como forma de vida – e o espaço pela qual a narrativa se
apresentaria – o surreal dos sonhos, o mundo onírico. Pontos indispensáveis e
condutores de todo o trabalho.
Para
começar a escrever esta linha dramática, lembro-me que a Karine Cupertino,
auxiliar de dramaturgia, em uma das muitas conversas que tivemos, solicitou que
eu pedisse aos membros da equipe que, todos os dias, após acordarem, anotassem
seus sonhos e os enviassem por e-mail. Um dos apontamentos que ela me fez nesta
mesma reunião foi que eu passasse muita confiança ao fazer este pedido, para
que a recém-formada equipe não temesse detalhes ao descrever seus sonhos: “Eu
sei que existem coisas extremamente pessoais nos sonhos, e que às vezes temos
vergonha de compartilhá-los: são ‘monstros’. Mas tente transmitir confiança, pois
são justamente esses ‘ouros’ que precisamos captar e trabalhar em cima da
dramaturgia. É isso que necessitamos desconstruir e trazer para a nossa
história, pois dará força e veracidade”.
E ela tinha
toda razão!
Queríamos
um projeto mergulhado no surrealismo dos sonhos, nos imprevistos do evento
onírico, na realidade transfigurada. Queríamos transmitir aquele ‘monstro’.
Sensibilizar através do impossível, da fantasia deste mundo onde tudo é
verdadeiro. Onde a essência tem rosto e a crueldade é bela. Onde nós realmente,
e possivelmente, somos nós mesmos.
Depois de
muito se transformar, com a entrada e saída de pessoas da equipe, modificando e
pesquisando os mínimos detalhes da dramaturgia final, hoje olho para o projeto,
para o espetáculo, e percebo que a equipe se sente integrante da história e que
esta própria história tem uma força indiscutível. Frequentemente eu ouvia nos
ensaios gerais a iluminadora pensando alto: “Nossa, esta ação se parece em
muito com aquilo que eu sonhei”. Suspeito que eles esqueceram o que sonharam
naquela época, e o que talvez a Karine captou e transformou para o espetáculo,
mas sinto que ele é filho de muitos.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Luta Antimanicomial
Caríssimos,
Nesta sexta, 18, é Dia de Luta Antimanicomial.
Dia de luta a favor da autonomia, da liberdade, da diversidade dos modos de vida!
E a Luta Antimanicomial sempre esteve muito vinculada às artes!
Abaixo, divulgo duas atividades que acontecerão em Florianópolis.
Boa luta a todos nós!
Finalmente!
Instituída a Comissão da Verdade!
Veja uma pequena reportagem sobre a cerimônia ocorrida nesta quarta-feira, dia 16, clicando aqui!
Veja uma pequena reportagem sobre a cerimônia ocorrida nesta quarta-feira, dia 16, clicando aqui!
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Al Nakba
Ontem foi Al Nakba, "Dia da Catástrofe" na Palestina. Todos os dias o são, desde a ocupação do território pela força de Israel. A resistência continua, mas é totalmente desproporcional à violência israelense - as pedras contra os tanques de guerra.
Segue uma entrevista recente sobre o Al Nakba, que tirei do blog da Elaine Tavares:
A foto, do início da postagem, é do espetáculo teatral "O Cego e a Guerra", de 2002, uma adaptação da peça "Antígona de Sófocles" de Bertold Brecht, para o conflito na Palestina.
domingo, 13 de maio de 2012
Crônica do Galeano
Crônica da cidade de Manágua
O comandante Tomás Borge me convidou para jantar. Eu não o conhecia.
Tinha fama de ser o mais duro de todos, o mais temido. Havia mais gente no
jantar, gente linda; ele falou pouco ou nada. Ficou me olhando, ficou me medindo.
Na segunda vez, jantamos sozinhos. Tomás estava mais aberto:
respondeu muito solto minhas perguntas sobre os velhos tempos da fundação da Frente
Sandinista. E à meia-noite, como quem não quer nada, me disse:
— Agora, conta um filme para mim.
Eu me defendi. Expliquei que morava em Calella, uma
cidadezinha, onde o cinema quase não chegava, só filmes velhos...
— Conta — insistiu, ordenou. — Qualquer filme, qualquer um, mesmo que seja
velho.
Então contei uma comédia. Contei, atuei; tentei resumir, mas
ele exigia detalhes. Quando terminei:
— Agora, outro.
Contei um de gângster, que acabava mal.
— Outro.
Contei um de cowboys.
— Outro.
Contei, inventando de cabo a rabo, um de amor.
Acho que estava amanhecendo quando me dei por vencido, supliquei
clemência e fui dormir.
Encontrei-o uma semana depois. Tomás pediu desculpas:
— Espremi você, naquela noite. É que eu gosto
muito de cinema, gosto loucamente, e nunca posso ir.
Disse que qualquer um podia entender. Ele era ministro de
Interior da Nicarágua, em plena guerra; o inimigo não dava trégua e não havia
tempo para luxos como ir ao cinema.
— Não, não — me corrigiu. — Tempo, tenho. Tempo... a gente sempre
consegue, quando quer. Não é uma questão de tempo. Antes, quando eu estava
clandestino, disfarçado, dava um jeito para ir ao cinema. Mas agora...
Não perguntei. Houve um silêncio, ele continuou:
— Não posso ir ao cinema porque... porque no
cinema, eu choro.
— Ah! — disse. — Eu também.
— Claro — respondeu. — Percebi na hora. Na primeira vez que vi
você, pensei: "Esse é dos que choram no cinema".
Eduardo Galeano - "O livro dos abraços"
Eduardo Galeano - "O livro dos abraços"
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Fórum Catarina de Cultura
Caríssimos,
A classe artística de Santa Catarina vai, aos poucos, se organizando.
Sem dúvida que este é um "momento novo", ainda que possamos remontar sua história, suas lutas.
Vejam os relatos no blog do Fórum Catarina de Cultura.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Beth
Transcrição de atendimento realizado por Fritz Perls:
Beth: (voz forte, áspera, estridente.) No meu sonho, eu
estou com um anel de aço, como se fosse uma parte de uma roda de caminhão, em
volta do peito, e eu não consigo me libertar. Eu me sinto presa pelo anel de
aço, e fico tentando sair.
Fritz: Muito bem. Agora, para isto, eu preciso de um homem
forte, alguém para subir aqui. (um homem sobe). Beth, seja o anel de aço do seu
sonho. Ponha os braços em volta do peito dele e tente mantê-lo preso. (ela faz
isso e aperta forte.). Muito bem. (para o homem.) Agora você, tente romper o anel e se libertar. (uma luta rápida e
vigorosa, e ele se liberta.)
Beth: (descoberta.) Mas eu não sou feita de aço!
Fritz: É! Captou a mensagem?
Beth: Eu realmente pensei que podia segurar.
Fritz: Muito bem.
Perls, F. Gestalt-Terapia Explicada. São Paulo: Summus, p. 252.
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